segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Histórias do Universo 25
IV - A prenda de NIA

Palácio Imperial, Júpiter [1:39:4]

21 de Dezembro de 2016 CO, 23h45m

O imperador, estava deitado na sua cama quando entrou a comunicação.
“ Sua magnificência! Usaram um tele-transportador na prisão de Phobos.”
A notícia era preocupante, e tirou-lhe o sono. Saber que o prisioneiro que fugiu não tinha sido um assassino qualquer deixou-o irado.
Levantou-se e ligou a Hamilton.
– Boa noite senhor.
– Receberam a notícia de Phobos?
– Sim senhor. “Boa noite” foi apenas um cumprimento senhor.
– Vou dar-te acesso a pesquisa secreta. Escolhe uma equipa de confiança. Quero que vocês me expliquem como foi possível essa fuga, e arranjem protecção para todo o império contra essa tecnologia.
– Entendido senhor. E a outra missão?
– Só parte assim que este problema estiver resolvido.
O imperador desligou a comunicação, levantou-se da cama. Aproximou-se do seu computador, e enviou toda a informação que tinha sobre tele-transportadores para Hamilton, no centro de pesquisas de Júpiter.
Depois foi até uma parede com um enorme monitor.
Pôs a mão numa pedra específica na parede, por detrás desse monitor e abriu-se um portal no meio do quarto. O imperador atravessou e foi ter a um enorme salão, muito maior do que qualquer dos seus palácios, iluminado artificialmente, sem portas nem janelas. O salão estava cheio de todo o tipo de objectos. Edifícios, Carros, brinquedos, naves espaciais, robots, computadores, estantes com livros, todo o tipo de transportes, enfim, um verdadeiro armazém de tudo o que se possa imaginar.
– Guardião! – chamou.
Um robot de dois metros e meio aproximou-se com um jet-pack debaixo do braço.
– Seja bem vindo senhor.
O imperador colocou o jet-pack às costas e afastou-se do guardião a grande velocidade.
Atravessou todo o salão até chegar a uma torre, perto da parede. Usando o jetpack, subiu até ao 144º andar, que ainda estava longe do topo do edifício. Entrou pela janela que estava aberta, numa sala vazia. Meteu uma chave na porta, abriu-a e foi ter a um pequeno corredor com um elevador numa ponta, escadas na outra e seis portas de cada lado.
Entrou no elevador e disse:
– Mil setecentos e vinte e oito..
Saiu num andar exactamente igual àquele onde entrou no elevador.
Foi até à sexta porta à sua direita, onde estavam várias estantes com livros. Livros como aqueles que se usavam há milénios na Terra original. Só que em vez de papel, o material era outro, sintético e muito duradouro.
Escolheu um livro na estante 12 .
Saiu e fez o percurso inverso até ao sítio onde o guardião lhe tinha dado o jet-pack.
Devolveu-lhe o jet-pack.
– Fecha-me a janela no 144º andar da torre dos tempos, se fazes-me favor.
O Guardião afastou-se, e o imperador colocou a mão no ar, no mesmo sítio ode tinha estado o portal que o levou ali, e o portal voltou a abrir-se. O imperador atravessou-o e regressou ao palácio em Jupiter.
Embora tenha levado quase duas horas, no relógio que tinha na parede, tinham-se passado apenas trinta e seis segundos.


Centro de pesquisas, Júpiter [1:39:4]


22 de Dezembro de 2016 CO, 00h15m

O comandante Lagrange estava uma sala de uma rede de salas, a um quilometro abaixo da superfície. Estava frente ao caixão de cristal fechado, onde estava NIA.
Com ele estava Itaca Troy.
– Já passaram três semanas David. Tens de regressar à vida activa. Com o nosso nível de tecnologia, se em três semanas não conseguimos trazê-la de volta, temos de encarar a possibilidade de que talvez isso não aconteça durante as nossas vidas.
– Eu sei. Se me prometeres que guardas segredo, mostro-te uma coisa.
– Segredo? Sim, sabes que podes contar comigo.
– Esta sala, tal como muitas por aqui, não tem câmaras de segurança.
– Porquê?
– O imperador quer o máximo segredo sobre certas tecnologias. NIA e este caixão não são excepção.
– Existe tecnologia no caixão?
– Olha para o pulso dela.
Troy olhou...
– Um relógio de pulso parado?
– Não, não está parado. Eu estava aqui quando o próprio imperador lhe pôs o relógio.
– Estou a olhar para ele e está parado.
– Dentro do caixão, o tempo está muito desacelerado.
– Eu não sabia que tínhamos dessa tecnologia.
– Não temos. Foi o próprio Imperador que me pediu dois minutos a sós com ela. Esperei lá fora, mas quando voltei, ela já estava dentro da caixa. Vi-o a por-lhe o relógio e a fechá-la. Notei que o relógio parecia parado, e então ele explicou-me, que aquela caixa ia impedir que NIA se degradasse.
– Como foi que o caixão chegou aqui sem passar por ti?
– Eu já vi tanta coisa estranha que posso imaginar várias alternativas... Sabes, estou a pensar em pedir ao imperador uma caixa daquelas para mim, que só seja aberta quando NIA estiver curada.
– “Curada”.. como sabes que não é definitivo? E como é que tens descendência biológica se passares o tempo num caixão de cristal?
– Doo material genético..
– Estás disposto a abandonar a tua vida, e os teus amigos?
– Ela é a minha vida.
– Sabes sequer se o imperador tem mais caixas daquelas? Sejamos francos David, há três semanas quando tu e ela me consultaram, sabiam que um dia iam separar-se. Mas não serei eu a impedir-te de ser feliz.
– Desculpem-me ter estragado as vossas férias.
– O imperador compreende e deu-me a mim e a Solo um novo período de férias, portanto, não tens nada que pedir desculpas.

Entretanto, a porta abriu-se e o Imperador entrou.
– Boa noite. Troy, dás-me uns minutos em privado com o comandante?
– Sim senhor.
Troy saiu.
– Comandante, tenho aqui um livro para si.
O Imperador estendeu-lhe o livro
– Perdoe-me a ousadia senhor. Não tem mais um caixão destes... para mim?
David tomou o livro.
– Não, comandante, o caixão é único, e, como lhe disse deve ser-me devolvido assim que NIA estiver novamente funcional.
– Devolvido?
– Decidi aprovar o seu pedido. Está pronta uma pequena frota que estará sob o seu comando. A sua missão é tentar trazer NIA de volta à vida e trazer para o império todo o conhecimento e tecnologias que adquirir no processo. NIA, irá no seu cruzador.
– Não sei o que dizer... muito obrigado senhor.
– Não me agradeça ainda. Será avaliado psicologicamente, e só quando estiver apto ao serviço lhe passarei a frota para as mãos.
– Sim senhor.
– Passa os olhos pelo livro e diz-me o que achas.
– Sim senhor.
O Imperador aproximou-se do caixão e olhou para a cara de NIA.
Lagrange olhou para a capa. Era uma história muito antiga, “O homem Positronico”. Na primeira página. Havia uma dedicatória manuscrita.
“De N.I.A. Para David Lagrange, o homem da minha vida”.
– É da NIA!
– Sim, é.
Na segunda página estava desenhada uma mão direita. Lagrange pôs a sua mão sobre o desenho e as nanites que corriam nas veias do seu corpo receberam informações. Foi activado um programa na mente de David.
Num enorme jardim, estava NIA.
– Olá David.
– NIA!
Lagrange correu para junto dela
Esta mensagem foi gravada em 2015 CO. Eu não estou realmente aqui.
Se recebeste o livro, é porque eu devo ter sido desactivada. Lamento que isso tenha acontecido. Neste livro existe um cartão com nanites iguais às minhas nanites originais. No teu organismo, elas criarão uma cópia da minha IA original, e se quiseres terás uma nova N.I.A. Não serei eu, nem terá as minhas memórias.

É a última prenda que te dou, junto com este livro.
Obrigado pelos bons momentos da minha curta vida. Obrigado por teres estado comigo nos maus momentos. Por teres feito com que me sentisse humana quando muita gente me fazia sentir como uma boneca descartavel. Obrigado pelo teu amor. Peço desculpa por ter levado tanto tempo a corresponder-te e por ter-te abandonado tão cedo.
Não sei se algum dia voltaremos a encontrar-nos, mas quero acreditar que sim. Quero acreditar que existe um Deus neste universo que permitirá que eu e tu nos reencontremos.
Adeus, Lagrange.
Tem uma vida longa.
Adoro-te.

Lagrange viu que a imagem de NIA chorava enquanto se despedia, e abraçou-a.
O programa desligou-se.
– Obrigado senhor.
– Tenciona usar a nova N.I.A. que está no cartão desse livro?
– Não sei. Como sabe da existência de uma nova N.I.A.?
– A primeira NIA disse-me, quando me pediu que guardasse o livro. Também explicou-me que o seu corpo e essas nanites são tecnologias muito distintas.
– Muito obrigado senhor.
– Se decidir não utilizar esse cartão. Vou pedir-lhe que mo dê para guardar num local seguro.
– Vou pensar no assunto.

...E você caro leitor, aceitaria ter uma nova N.I.A. na sua mente?
Tenha um excelente 2013
Até à próxima.
Matemaníaco

1 comentário:

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