segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

As aventuras de Capitão Lagrange
Capítulo IV
Os Piratas
( Parte 1 )

Pode ver um resumo da história até agora aqui ou aqui.


“O quê? A pirataria é ilegal quando é contra mim! - Respondeu o imperador”

Fernão Hopes, “O império de may”

Ao bombardeamento seguiu-se uma pequena chuva de destroços que atingiu vários edifícios e destruiu várias tendas.
As pessoas abrigaram-se como puderam, mas algumas foram atingidas.
As ambulâncias improvisadas espalharam-se pela cratera e vizinhança. Algumas também levaram com os destroços em cima, e ficaram pelo caminho.
Ouviam-se gritos.
Não se percebia o porquê destes ataques.
Sem frota, sem liderança e sem exército, nos dias seguintes o caos espalhou-se.
PéNaCov tentou, mas não foi capaz de unir a população.
O hospital-destruidor estava cheio de feridos e tinha uma grande falta de médicos e de equipamento.
As fontes de energia começaram a escassear e pequenos grupos organizaram-se para procurar comida.
Uma semana depois, no decimo primeiro dia do terceiro mês do ano 1, Lagrange encontrou PéNaCov acamado no hospital-destruidor.
– Onde está NIA?
– Começas a chatear-me com a tua boneca! Não sei!
– Robotica, pode ajudar-nos. Mas preciso de NIA para os contactar.
– Eles monitorizam as nossas comunicações. Se quisessem já tinham ajudado. Quem nos garante que não foram eles a bombardear-nos?
Lagrange agarrou PéNaCov pela camisa e insistiu:
–Não fujas ao assunto! Que lhe fizeram?
Lagrange notou que PéNaCov tinha perdido a mão direita. Até agora o braço direito tinha estado debaixo do lençol. Notou também que a perna esquerda era mecânica
– Estás mesmo obcecado por essa boneca!
– Que te aconteceu?
Lagrange largou-o.
– Acidente doméstico. Estávamos a ver o que é que podia se salvar dos destroços da frota, e havia lá um laser de um caça que disparou na minha direcção. Tive sorte em ter sido só a mão.
– E a perna?
– Perdi-a numa missão, muito antes de chegar aqui. O que foi que vieste cá fazer?
– Visitar-te.
– Sobre a tua boneca...
– O nome dela é NIA!
– Como eu ia dizendo, sobre a tua boneca,...
– Escuta aqui meu cabrão: Se não aprenderes a tratar as IAs como gente não estejas à espera de ter boas relações com Robótica.
Serguei olhou para Lagrange com o ar de quem o ia zombar.
– Certo. Tu podes querer pinar aquele eletrodoméstico, mas isso não faz dele gente.
– Nem vou comentar essa afirmação. Gente ou não, precisas de os tratar como se fossem humanos. Que te diz o tal blog sobre isso?
– O blog parece parar para no fim do terceiro capítulo, com o bombardeamento à nossa frota. Mas aprendi coisas que podem vir a ser-me úteis...
– Onde está NIA?
– Estás mesmo embeiçado por aquela andróide! Estás a insultar todas as mulheres da espécie humana.
– O que é que te interessa isso? Onde é que ela está?
– Pareces um puto birrento. Devias saber que nem sob torturma me arrancam o que eu não quero dizer.
– Ela é um risco para nós? Já fomos bombardeados! Lá fora é o caos. As pessoas querem sobreviver, e em segurança. Achas mesmo que revelar-me onde ela está vai piorar isto? Qual é o teu problema?
– Levamos poucas horas a visitar sistemas solares noutras galáxias, e vocês levaram mais de doze horas numa missão de busca de sobreviventes, e ainda por cima cometeram a maior estupidez militar da história: mostraram a um inimigo claramente superior onde tínhamos toda a nossa frota parada!
– Não fomos nós que os levámos à Esperança. Quem encontra a Esperança no meio do espaço facilmente encontraria a nossa frota parada num planeta.
– Falas em suposições. Eu falo em factos. Vens me chatear por causa de uma boneca quando morreram vários homens bons? Onde estavam as tuas teorias quando regressaram ao planeta?
– Eu não estava ao comando da Arquimedes, nem mesmo do meu caça, mas concordei com as decisões tomadas. Estávamos sem combustível. Seríamos apanhados de qualquer forma.
– Já agora, onde andaste toda a semana? Quem és tu para vir aqui me exigir seja lá o que for?
– Não te diz respeito.
– Não passas de um traidor à tua própria espécie.
Natália aproximou-se e pediu a Lagrange que saísse e a PéNaCov que se acalmasse.
Á saída, um pequeno grupo de 17 homens e mulheres esperava Lagrange. Entre os quais os seguranças que o tinham acompanhado quando saiu da Arquimedes, Jovian, Gonzalez, Muitus Tretus, Hic Silva, e alguns ex-membros da equipa de Serguei.
– Nada. Continuo sem saber de NIA.
– Sem ela, acho que não vale a pena regressar a “Robot City”- Disse Gonzalez.
– Continuamos como planeado?– Perguntou Laura , ex-agente de PéNaCov.
– Que remédio!
Os homens dividiram-se em 3 carros. Laura conduzia o carro da frente, os outros seguiam.
– Há uma coisa que me está a incomodar. Se vocês têm carros, porque é que pelo menos um não acompanhava os contentores de deutério que eram levados a pé por Serguei e os seus homens?
– Exercício físico?
– Vai gozar outro! Logo num carregamento de deutério?
– Os portais de salto terrestre emitem um pulso eletromagnético no raio de 1 quilómetro que inutilizam estes carros.
– Estou a ver. Até as minhas nanites foram desligadas na altura. E o contentor deixou de flutuar.
– É frustrante. Lá fora, temos tecnologia bem mais sofisticada e blindada contra estes problemas.
– Por falar nisso. Ali o nosso amigo Jovian tinha um teletransportador na Arquimedes! Porque não usavam isso para transportar o deutério?
A ionização-T estraga o deuta. Além disso, teletransportadores são tecnologia proibida.
Proibida lá fora. Por cá não temos uma lei que proiba.–Respondeu Jovian.
Hey. Parem os carros – gritou Tretus apontando para o céu.
Lagrange olhou para o céu.
Interceptores! Estão a descer interceptores!
Laura trava o carro. Os carros que a seguem param. Ao ver Tretus a apontar para o céu todos olham e vêm interceptores a descer e a aterrar.

(Continua)

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