sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Histórias do Universo 25
V - O erro do Imperador
( Parte 1 de 4 )


Sala de reuniões do senado Imperial, Júpiter [1:39:4]

15 de Janeiro de 2017 CO, 10h00m
– Bom dia a todos, está aberta a 7265ª sessão diária do senado imperial. Hoje, contamos com a presença de sua magnificência o Imperador Matemaníaco I.
Recordo aos representantes dos nove planetas que dada a natureza dos assuntos de hoje a sessão está a ser gravada com encriptação fractal multidimensional nível 20, como previsto no artigo XCIX da 1ª constituição do Império.
A presença do imperador foi pedida porque...
Eu sabia porque estava ali sentado.
Há precisamente 20 anos autorizei a criação do senado como um dos mecanismos de apoio na gestão de todo o território. Ao longo dos anos foram-se criando interesses e tive de impor-lhes algumas regras. Afinal, apesar de tudo o imperador era eu!
Para garantir um senado honesto e sem vícios e com amor à pátria todos eles que ali estavam tinham sido seleccionados entre as pessoas mais honestas do povo, dessa lista algumas foram eleitas pelo sistema justo concebido até hoje, sem qualquer campanha eleitoral. Os seus percursos de vida eram publicamente divulgados na Internet-U sem invadir a vida privada, e eram eles que serviam para os eleitores decidir quem queriam para representante.
Cada um deles recebia o salário mínimo, em regime de exclusividade. Todos seus os bens, movimentos e acções são constantemente monitorizados, tal como os das suas famílias, por uma rede de IAs, conhecido como o SAHI (Serviço Artificial de Honestidade Imperial ).
O SAHI mantém a privacidade e a lealdade dos 27 senadores, e de todos os seus antecessores, e age em caso de traição.
Chamaram-me porque autorizei uma missão num pequeno grupo de naves militares, numa situação anómala, e da qual sabiam muito poucos detalhes, tal como muitas outras antes. No entanto, era a primeira vez que me convocavam nestas circunstancias.
A notificação foi-me entregue antes de ontem e era clara. Eu podia responder por escrito, por video, ou holovídeo. Preferi vir cá pessoalmente e encriptar a gravação da sessão. O assunto era sério e tinha de se manter afastado do conhecimento do público

– Obrigado pela sua presença, magnificência. Decerto para dar-nos conhecimento do que está por trás do lançamento de uma pequena frota não havia necessidade de ter se deslocado cá. Poderia ter simplesmente enviado uma comunicação.
– Obrigado Arfen. Meus senhores, eu vim cá porque o assunto é sério, e está relacionado com um caso anterior. Está neste momento a entrar-vos no correio um email que auto apagar-se-á assim que esta sessão terminar.

O email que tinham recebido continha partes do processo imperial Mat20122012coA2Z3S5.
No centro da sala, surge um holograma de NIA, e uma voz artificial começou a ler o email.

“No dia 20 de Dezembro de 2012CO, a andróide NIA foi acolhida como cidadã do império.
Nasceu no planeta Cronos, no sistema Bertrixt, fora do espaço-tempo do nosso universo.
A IA é uma versão aperfeiçoada de uma IA construída no final deste século, mas ligada pela primeira vez, lá, em Cronos, na mente do Comandante David Lagrange da nossa Frota Astral.
O corpo que tem, foi-lhe construido pelos habitantes de Robótica, uma cidade em Cronos.
De acordo com os testemunhos de alguns sobreviventes encontrados à deriva numa das nossas explorações espaciais, mais tarde confirmado pelo centro de pesquisas de Achenar239, é uma combinação de tecnologia alienígena com tecnologia do nosso futuro.
Trabalhou durante dois anos na biblioteca do palácio imperial, em Achenar239, e depois com autorização do próprio imperador concorreu à academia astral, onde após apenas dois anos brilhantes graduou-se com honras. Foi colocada sob o comando de David Lagrange, no cruzador CRZMAT27112012-001, como oficial de tecnologia sem posto militar.
No dia 1 de Dezembro de 2016CO, durante uma viagem para Ria, sede do Império de Aivota foi vítima de uma tentativa de assassinato com teletransportador por um membro dos DRH.
Após o regresso a Júpiter, ainda no hangar, o próprio imperador cede um caixão de cristal onde a fecham, até ser encontrada uma solução.
No dia 11 de Janeiro de 2017CO o imperador cedeu a David Lagrange, uma pequena frota constituída por dez caças pesados, doze cargueiros grandes, um cruzador, uma nave de batalha, um interceptor, um bombardeiro e um destruidor.
A 12 de Janeiro, depois da nomeação e transporte dos últimos oficiais, a frota parte numa missão de natureza científica para tentar reconstruir NIA.”

O holograma desligou-se.
O senador Caius levantou o braço.
Arfen, presidente do senado olhou para mim, e eu “disse que sim” com a cabeça.
–Tem a palavra o senador Caius.
– Obrigado senhor presidente. Obrigado sua magnificência. O seu holovídeo responde a muitas questões mas deixou-me muitas outras. Porquê um caixão de cristal? E porquê cedido pelo imperador? Como entrou um dos DRH numa nave imperial? E desde quando têm eles acesso a teletransportadores? E finalmente, a informação que nos deu sobre a missão do comandante Lagrange sabe a pouco. Qual a importância desta missão para o império? Obrigado.
Haviam outros braços levantados.
Arfen olhou para mim, e eu acenei negativamente a cabeça.
– Peço a todos os senhores senadores que tiverem questões para por ao senhor imperador que mantenham os braços no ar.
Passo a palavra ao senador Julio César.
– Obrigado senhor presidente. Obrigado sua magnificência, pode dizer-os se neste momento os DRH representam uma ameaça significativa para o império, para a aliança, ou para o Universo?
E porque colocou a missão nas mãos de Lagrange e não de alguém mais capaz? Obrigado.
– Passo a palavra à senadora Andrómeda.
Obrigado senhor presidente, obrigado Imperador.
Não me agrada saber que os DRH usam teletransportadores como armas, e sei que recentemente, na colónia prisional de Phobos um membro dos DRH escapou, recorrendo a essa tecnologia. O que é que está a ser feito para controlar os ataques com teletransportadores? Obrigado.

Continuei a ouvir perguntas de mais dez membros do senado.
Todas pertinentes. Eu não era obrigado a responder a nada, e a algumas questões nem podia responder. A outras, não sabia como o fazer.
(continua)

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