quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Histórias do Universo 25
V - O erro do Imperador
( Parte 4 de 4 )

– Portanto, também tenciona ocultar essa informação ao imperador Poeta.
– Por favor, deixe a minha mente em paz!
– Não pense que gosto de fazer isto. Seja como for, obrigado pelo cumprimento.
– Cumprimento?!
– Acha-me atraente.
– Não faça isso! Por favor!
– Está bem. Se quer a minha opinião, é um erro pedir ajuda ao imperador Poeta e não lhe contar das nanites.
– Portanto, acha que eu errei ao ocultar isso do senado, e que é errado não contar ao Poeta. Permita-me discordar. A ignorância é uma felicidade!
– Para além de Lagrange, alguém naquela frota sabe disso?
– Espere lá! O David Lagrange sabe?
– Ele era o homem dela. Não é totalmente descabido pensar que ela lhe contou.
– Você sabe que ele era o homem dela?
– Se você não se roesse de inveja dele, provavelmente eu não teria visto isso nos seus pensamentos.
– Vamos parar com isto! – disse eu num tom enfurecido – A minha mente é privada. Não tem o direito de a invadir sem a minha permissão. Foi para isto que me pediu que viesse aqui?
– Como eu disse isto é um dom e ao mesmo tempo uma maldição. Em primeiro lugar tenho de deixar-lhe um alerta.
Até hoje o senhor foi o homem que li mais facilmente. Imagine se algum dos outros impérios metesse um espião telepata na sua corte.
Em segundo,compreendo que oculte coisas ao senado. Mesmo sabendo o que se passa na cabeça das pessoas, muitas vezes é muito complicado montar o puzzle. Compreendo que quer tentar salvar a sua amiga... e só agora percebi que precisa mesmo de ter a certeza que não é possível trazê-la de volta para poder permitir que a desmontem para estudo. E também compreendo como é que o império pode benificiar da tecnologia.
Em terceiro lugar. Eu ainda não estou preparada para estar no senado conseguindo ver as mentes de toda a gente. Achei que conseguiria, e que este dom seria um trunfo, mas agora vejo que as coisas podem não ser tão simples.
– Há quanto tempo tem esse … “dom”?
– Desde que nasci.
– E ainda está assim tão indisciplinada em relação a ele?
– Eu nasci e cresci na ilha da mancha vermelha. Lá as pessoas são mais simples e honestas. Aqui na capital é que as pessoas escondem o que sentem, mentem, manipulam.
– Agora compreendo. O sistema achou que eras perfeita para o cargo. Pelo que vi lá dentro e aqui, não vou discordar. Vou pedir a uma amiga minha, a minha conselheira Ítaca Troy que passe por cá e a ajude a orientar-se. Pode contar-lhe tudo. Ela é de confiança.
– Troy... também gosta muito dela.
– Por favor, tente não ver tanto o que está na mente das pessoas.
– Desculpe. Não foi por mal.
– Como é que lida com as outras pessoas?
– Eu mantenho-me isolada o máximo que posso. E esforço-me por ignorar o que vejo. Sabe... Este grupo de senadores tem as pessoas mais honestas da cidade.
– Obrigado por partilhar isso. Está a dizer-me que o sistema faz aquilo para que foi criado!
– Por isso é que acho que é errado ocultar-lhes informação dessa natureza.
– Está a dizer-me que não ocultou o seu dom deles?
– Eles sabem. Caius acha que eu estou preparada para o senado, mas não para a cidade.
Por favor, mande-me a sua amiga Troy. Pelo que a sua mente me mostrou, ela pode ser mesmo a pessoa ideal para me ajudar.


Andrómeda tinha sido nomeada para substituir Tiago, um senador que tinha atingido a idade da reforma. Era a primeira vez que havia uma substituição desta natureza no senado. Foi-me apresentada aquando da substituição, mas esta era a primeira vez que eu falava só com ela.

Quando regressei ao palácio, Tinha Troy à minha espera.
– Como foi o senado?
– O habitual. Quero pedir-te um favor.
– Um favor? Diga lá!
– Preciso que avalies psicologicamente uma telepata, e, se passar na tua avaliação, que a prepares para um dia ser minha conselheira.
– Tenciona despedir-me?
– Não, nada disso. Apenas dar-te uma colega de trabalho.
– Quem?
– A senadora Andrómeda.
Troy olhou-me.
– Está descontente comigo?
– Não! Só quero corrigir um erro meu.
– Um erro seu? Nunca me dei conta de erros seus.
– Andrómeda até me acusou de vários. Só que não os considero erros. São riscos necessários.
– Acusou-o? É ousada!
– É uma telepata indisciplinada. Preciso que a ajudes a disciplinar a mente.
– E esse tal erro seu?
– Tenho estado a sobrecarregar-te de trabalho, que, mesmo estando habilitada, muitas vezes não faz parte das funções. Esse tem sido o meu erro. O incidente com NIA, fez com que tu e Solo perdessem as férias em Ria.
– Isso foi decisão nossa! NIA era nossa amiga!
– Sim, eu sei. Como funcionários da corte, e pelo bom trabalho realizada vão ter direito a mais tempo livre. Se Andrómeda passar na tua avaliação estarás a treinar uma futura colega de trabalho.
– Ela vai ser simultaneamente conselheira e senadora?
– Ela ainda não sabe. Mas quando abandonar o senado será minha conselheira.
– Como pode ter tanta certeza?
– Eu sou o imperador.

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