O pior é que, eu ainda sabia de uma coisa que não tinha lhes havia contado, nem contei.
Mas havia uma pessoa que passou a sessão toda com os olhos fixos em mim, que me olhava como se soubesse.
Assim que a sessão terminou, Andrómeda continuou a olhar-me fixamente e ao contrário dos outros senadores não saiu do local.
Ouvi a sua voz na minha mente.
“Eu sei.”
Pensei que fosse apenas a minha imaginação, sorri-lhe e saí. Ao chegar à porta, voltei a ouvir na minha mente.
“Volte para trás e enfrente-me.”
Virei a cabeça para trás. Ela continuava a olhar fixamente para mim.
Então, voltei para trás. Pedi aos meus guarda-costas para me esperarem.
Voltei a entrar no senado. Já todos tinham saído, excepto ela.
– Está tudo bem consigo?– Perguntei.
– Não estava a imaginar.– Disse-me ela em voz baixa.– Eu sou telepata. Eu sei o que não nos contou.
– Como?
Ela olhou-me nos olhos.
“Por favor. Aqui, tudo o que dissermos fica gravado...”
Ouvi-a claramente, mas sua boca estava fechada.
Olhei à volta e não vi mais ninguém.
“Não, não está mais ninguém aqui e não se trata de nenhuma forma tecnológica de nanocom. Por favor, vá ter ao meu gabinete.”
E saiu enquanto eu olhava para ela. Seria possível? Uma telepata no senado?
Tornei a sair e pedi aos meus guarda-costas que me levassem ao gabinete da senadora Andrómeda, que, para ser honesto eu não sabia onde era.
Levaram-me. Bateram à porta. Ela abriu, e eu entrei, deixando os homens lá fora.
– Aqui nada fica gravado. Nem mesmo com encriptação, e eu sinto-me mais segura.
– Como é que...?
– Eu sou mesmo uma telepata. O seu precioso sistema que escolhe as pessoas para o senado, seleccionou-me. E sim, eu sei o que nos ocultou.
– Sabe?
– Sim, eu sei das nanites do sistema de regeneração da sua amiga NIA.
– O que têm as nanites da NIA?
– Não se faça desentendido comigo. Eu estou a ver a sua mente enquanto falamos. Preciso mesmo de lhe dizer verbalmente?
– Por favor, faça-me a vontade.
– Num hangar suficientemente evoluído, aquelas nanites permitem construir frotas enormes e poderosas muito rapidamente. As nanites de NIA, em número suficiente, num dos nossos hangares conseguem fazer com que se fabrique uma enorme frota de estrelas da morte em segundos, e... o corpo de NIA tem a capacidade de produzir essas nanites.
Sim! Ela sabia! Aquele era um segredo que apenas era conhecido por mim e por NIA. A equipa especial que passou três anos com os holo-esquemas dela, para a tentar evoluir a nossa tecnologia teve imensas dificuldades em compreender o funcionamento básico daquele andróide. Acreditar que os homens do Poeta passariam pela mesma dificuldade era uma aposta... Ou seja, a missão poderia ser um grande erro.
Andrómeda aparentemente, tinha simplesmente extraído a informação de mim.
– Talvez tivesse sido mais correcto destruir o que resta de NIA. Não é preciso ser uma telepata para saber que teve uma paixoneta pela andróide! Mas não está à espera de convencer o resto do universo de que não tem interesse naquelas nanites!
Eu estava mesmo sem palavras. E ainda incrédulo.
– Cometeu um erro grave! Contou-nos muita coisa, mas ocultou-nos uma informação fundamental.
– Eu não estou a confirmar nem a negar o que diz.
– Não precisa. Para mim é suficiente saber que lhe disse isto na cara. Você é o imperador, você faz o que quer e entende. Não gosto, mas aprendi a respeitar e até comecei a admirar o seu trabalho. Tem sido respeitável com todos nós e feito verdadeiros milagres na evolução do império.
– Essas nanites não foram capazes de a reanimar. Acho que não são assim tão especiais.
– Eu sei tudo o que lhe passou pela mente enquanto estivemos lá dentro. As horas que passou a decidir se devia ou não salvar NIA. Se não seria mais seguro para todos ter, por exemplo, cremando o seu corpo ou tê-lo enviado para uma estrela. Até estou a ver que aquelas nanites são resistentes às protanerobacters de Cronos!
Eu compreendo porque preferiu salvá-la, sacrificado o que lhe parecia ser lógico.
Mas, sendo eu uma cidadã deste planeta, um membro do senado, não posso concordar com a missão de salvamento.
– As suas habilidades telepáticas constam do seu processo?
– Constam sim senhor. Nunca as escondi.
– Gostaria de trabalhar como minha conselheira?
– Não seria apropriado. Eu estou no senado.
– Abandone o senado, eu preciso de uma conselheira com os seus talentos.
– Telepata?
– É a primeira telepata que conheço.
– Eu sei. Também sei que está a imaginar o potencial de uma telepata nos serviços secretos, na agência da aliança, entre os seus seguranças, ou mesmo como imperatriz.
– Como é que faz isso?
– É um dom. mas não fuja ao assunto. Porque é que não nos contou sobre as nanites?
Eu nem precisei de abrir a boca. Os motivos vieram-me imediatamente à cabeça e ela viu-os.
Eu era um livro aberto para esta mulher!
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