quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Histórias do Universo 25
V - O erro do Imperador
( Parte 3 de 4 )

Seguiu-se uma acesa discussão. Mesmo tendo  esclarecido que se tratava de uma missão não oficial do império, e portanto, fora das competências do senado, perguntaram-me se seria sábio deixar os homens de um império já tremendamente evoluído por as mãos em tecnologia daquela natureza. Era um risco que eu não só estava disposto, como precisava de tomar.
O pior é que, eu ainda sabia de uma coisa que não tinha lhes havia contado, nem contei.
Mas havia uma pessoa que passou a sessão toda com os olhos fixos em mim, que me olhava como se soubesse.
Assim que a sessão terminou, Andrómeda continuou a olhar-me fixamente e ao contrário dos outros senadores não saiu do local.
Ouvi a sua voz na minha mente.
“Eu sei.”
Pensei que fosse apenas a minha imaginação, sorri-lhe e saí. Ao chegar à porta, voltei a ouvir na minha mente.
“Volte para trás e enfrente-me.”
Virei a cabeça para trás. Ela continuava a olhar fixamente para mim.
Então, voltei para trás. Pedi aos meus guarda-costas para me esperarem.
Voltei a entrar no senado. Já todos tinham saído, excepto ela.
– Está tudo bem consigo?– Perguntei.
– Não estava a imaginar.– Disse-me ela em voz baixa.– Eu sou telepata. Eu sei o que não nos contou.
– Como?
Ela olhou-me nos olhos.
“Por favor. Aqui, tudo o que dissermos fica gravado...”
Ouvi-a claramente, mas sua boca estava fechada.
Olhei à volta e não vi mais ninguém.
“Não, não está mais ninguém aqui e não se trata de nenhuma forma tecnológica de nanocom. Por favor, vá ter ao meu gabinete.”
E saiu enquanto eu olhava para ela. Seria possível? Uma telepata no senado?
Tornei a sair e pedi aos meus guarda-costas que me levassem ao gabinete da senadora Andrómeda, que, para ser honesto eu não sabia onde era.
Levaram-me. Bateram à porta. Ela abriu, e eu entrei, deixando os homens lá fora.
– Aqui nada fica gravado. Nem mesmo com encriptação, e eu sinto-me mais segura.
– Como é que...?
– Eu sou mesmo uma telepata. O seu precioso sistema que escolhe as pessoas para o senado, seleccionou-me. E sim, eu sei o que nos ocultou.
– Sabe?
– Sim, eu sei das nanites do sistema de regeneração da sua amiga NIA.
– O que têm as nanites da NIA?
– Não se faça desentendido comigo. Eu estou a ver a sua mente enquanto falamos. Preciso mesmo de lhe dizer verbalmente?
– Por favor, faça-me a vontade.
– Num hangar suficientemente evoluído, aquelas nanites permitem construir frotas enormes e poderosas muito rapidamente.  As nanites de NIA, em número suficiente, num dos nossos hangares conseguem fazer com que se fabrique uma enorme frota de estrelas da morte em segundos, e... o corpo de NIA tem a capacidade de produzir essas nanites.
Sim! Ela sabia! Aquele era um segredo que apenas era conhecido por mim e por NIA. A equipa especial que passou três anos com os holo-esquemas dela, para a tentar evoluir a nossa tecnologia teve imensas dificuldades em compreender o funcionamento básico daquele andróide. Acreditar que os homens do Poeta passariam pela mesma dificuldade era uma aposta... Ou seja, a missão poderia ser um grande erro.
Andrómeda aparentemente, tinha simplesmente extraído a informação de mim.
– Talvez tivesse sido mais correcto destruir o que resta de NIA. Não é preciso ser uma telepata para saber que teve uma paixoneta pela andróide! Mas não está à espera de convencer o resto do universo de que não tem interesse naquelas nanites!
Eu estava mesmo sem palavras. E ainda incrédulo.
– Cometeu um erro grave! Contou-nos muita coisa, mas ocultou-nos uma informação fundamental.
– Eu não estou a confirmar nem a negar o que diz.
– Não precisa. Para mim é suficiente saber que lhe disse isto na cara. Você é o imperador, você faz o que quer e entende. Não gosto, mas aprendi a respeitar e até comecei a admirar o seu trabalho. Tem sido respeitável com todos nós e feito verdadeiros milagres na evolução do império.
– Essas nanites não foram capazes de a reanimar. Acho que não são assim tão especiais.
– Eu sei tudo o que lhe passou pela mente enquanto estivemos lá dentro. As horas que passou a decidir se devia ou não salvar NIA. Se não seria mais seguro para todos ter,  por exemplo, cremando o seu corpo ou tê-lo enviado para uma estrela. Até estou a ver que aquelas nanites são resistentes às protanerobacters de Cronos! 
Eu compreendo porque preferiu salvá-la, sacrificado o que lhe parecia ser lógico.
Mas, sendo eu uma cidadã deste planeta, um membro do senado, não posso concordar com a missão de salvamento.
– As suas habilidades telepáticas constam do seu processo?
– Constam sim senhor. Nunca as escondi.
– Gostaria de trabalhar como minha conselheira?
– Não seria apropriado. Eu estou no senado.
– Abandone o senado, eu preciso de uma conselheira com os seus talentos.
– Telepata?
– É a primeira telepata que conheço.
– Eu sei. Também sei que está a imaginar o potencial de uma telepata nos serviços secretos, na agência da aliança, entre os seus seguranças, ou mesmo como imperatriz.
– Como é que faz isso?
– É um dom. mas não fuja ao assunto. Porque é que não nos contou sobre as nanites?

Eu nem precisei de abrir a boca. Os motivos vieram-me imediatamente à cabeça e ela viu-os.
Eu era um livro aberto para esta mulher!


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